No dia 21 de dezembro, quando o presidente Lula inaugurava a estátua de João Saldanha no Maracanã, fazendo justiça ao mais amado e admirado cronista, comentarista e técnico da história do futebol brasileiro, em meio a presenças de ministros, do governador do estado do Rio, Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes, do cartunista Ique, autor e inspirador da obra e da homenagem, foi inevitável para mim voltar no tempo; mais precisamente ao dia 22 de dezembro de 1957, ali mesmo no gramado mais famoso do mundo: o dia em que o Botafogo de Saldanha, do João Sem Medo, massacrou o Fluminense por incríveis 6 a 2 na grande final do Campeonato Carioca.
Claro, com a cumplicidade - e que cumplidade - de Mané Garrincha, de Didi, de Nilton Santos, de Quarentinha, mas sobretudo do ungido pelos deuses, Paulinho Valentim, que dos seis marcou nada mais nada menos do que cinco gols, um deles de bicicleta, deixando para Mané o complemento do placar da maior e até hoje jamais igualada goleada numa final de campeonato no templo do futebol. Favorito da midia da época, o Fluminense do técnico Silvio Pirillo, que tinha um time mais compacto, uma campanha mais regular, entrou em campo com a vantagem do empate e com um ar de quem acreditava mesmo na sua "superioridade". Falava-se também que outro fator a favor do time das Laranjeiras estava justamente no comando: afinal Saldanha não era ainda reconhecido como técnico, mas apenas como um cartola que havia decidido fazer uma aventura, coisa que, diziam, só seria possível mesmo num clube dado a transgressões das formulas estabelecidas, a atos de rebeldia, até mesmo de "molecagens", como foi, é e será sempre o Botafogo.
Ironizavam as superstições de Carlito Rocha, como a que ele profetizou a conquista do título, quinze dias antes, após uma sofrida vitória de 2 a 1, no fim da partida contra o América, com dois gols do mesmo Paulinho. "Há 15 dias estávamos afastados do título, mas uma série de resultados negativos de outros clubes, nos trouxe de volta ao páreo. É notória a preferência de Deus pelo Botafogo", disse Carlito.
Esses erros de avaliação seriam fatais ao tricolor. E não houve nem tempo para o time de Castilho, Pinheiro, Telê, Valdo e Escurinho, perceber o que iria acontecer naqueles históricos 90 minutos; um show de dribles, jogadas e gols, iniciado logo aos três minutos, num genial lançamento de Didi para Paulinho, que matou a bola no peito, virou e colocou no canto. E assim foi no segundo, quando após uma série de dribles de Mané, ele tocou a bola para Paulinho entrar com ela dentro do gol do estupefato Castilho, aos 30 minutos. O terceiro, então, foi de arrepiar: Didi deu vários dribles nos tricolores, descobriu Mané na esquerda, em vez de estar na direita, passou-lhe a bola: Garrincha driblou o lateral direito Cacá, deixando-o batido, e chutou; Pinheiro deu rebote, a bola volta a Didi que toca agora para Nilton Santos, que faz um cruzamento perfeito pelo alto para Paulinho dar uma linda bicicleta ao estilo Leônidas Silva, aos 42 minutos. O Maracanã veio abaixo, a torcida alvinegra em euforia e êxtase, a tricolor sem querer acreditar que aquilo fosse verdade. Intervalo, Botafogo 3, Fluminense 0.
Nem o gol tricolor, marcado por Escurinho, que poderia ser uma esperança de reação, logo no inicio do segundo tempo abalou o Botafogo. A resposta veio fulminante e novamente com Paulinho Valentim, recebendo de Didi, dribando Pinheiro e fuzilando Castilho, aos 9 minutos. Aos 15 foi a vez de Mané marcar o seu, recebendo o lançamento de Pampolini, driblando Pinheiro duas vezes antes de estufar a rede tricolor. E Mané queria mais: depois de uma série de dribles desconcertantes em Clóvis e em seu marcador, Altair, cruzou para Paulinho marcar o seu quinto gol no jogo e o sexto do Botafogo, que nem sentiu ou viu Valdo diminuir a goleada para 6 a 2.
Era o primeiro título do Glorioso no Maracanã, inaugurado há sete anos, o primeiro e único de João Alves Jobim Saldanha, como técnico, o primeiro de Mané Garrincha pelo Botafogo. O prenúncio de uma nova era - e que era - que se abria para o futebol brasileiro, que viria a se confirmar no ano seguinte, na Suécia foi repisado no Chile em 1962, consagrado no México em 1970, nos Estados Unidos em 94 e na Coréia/Japão em 2002, o Brasil cinco vezes campeão mundial.
Mas nunca se pode esquecer que tudo começou ali, naquele 22 de dezembro de 1957, no Botafogo 6 x 2 Fluminense, com o show do time de Saldanha, emoldurado pelos dribles geniais de Mané e os cinco gols de Paulinho Valentim. .
Botafogo 6 x 2 Fluminense
Botafogo - Adalberto, Beto, Thomé, Servilio , Nilton Santos; Pampolini, Garrincha, Didi, Edson, Paulinho Valentim e Quarentinha. Técnico: João Saldanha
Fluminense - Castilho, Cacá, Pinheiro, Jair, Clóvis, Altair, Telê Santana, Robson, Valdo, Jair Francisco e Escurinho. Técnico: Silvio Pirillo
Gols: Paulinho Valentim (5), Garrincha, Escurinho e Valdo
Árbitro: Alberto da Gama Malcher
Crônica de José Antonio Gerheim
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