Eram 30 minutos do primeiro tempo quando o juiz interrompeu a partida. Quase todos os jogadores se dirigiram até o meio de campo para acompanhar, bem de perto, a uma cena histórica. Eles queriam guardar para sempre a última imagem de um ponta direita em campo. Pouco antes da cena, o jogador dominou uma bola na intermediária. Avançou sem qualquer marcação. Na meia-direita, pouco antes do bico da grande área, parou diante do zagueiro Bruñel. Passou facilmente a bola entre as pernas de mais um “João”. E quase do bico da pequena área, chutou, por cima do travessão.
Naquela noite de 19 de dezembro de 73 esse jogador era apenas um rascunho embaçado do que fora no passado. Quando deixou o gramado não foi cumprimentado por ninguém. Nem pelos companheiros do time nem pelos adversários. Não havia ali nenhum desprezo. O momento era só dele. Ladeado pelo bandeirinha, saiu de campo sem pompa nem circunstância. Não fosse o estádio Mario Filho a lhe servir de testemunha, ele se sentiria como um menino, que deixava os rachas de Pau Grande para caçar passarinhos. Das arquibancadas e das gerais, aplausos. E gritos: “Garrincha, Garrincha, Garrincha!”
No vestiário, antes do jogo, uma cena comoveu Carlos Alberto Torres. Não havia um só jogador que não estivesse preocupado com o estado emocional de Garrincha. “A gente chegava nele, dava um abraço apertado. E dizia que ele podia contar com os amigos. Força, Mané! foi a frase mais ouvida”, lembra o Capitão do Tri.
“Eu é que agradeço e fico imensamente contente e muito obrigado mesmo, de coração. Com o coração brasileiro, obrigado”, declarava Garrincha, antes do jogo começar.
Pela posição que jogava, na lateral direita, Carlos Alberto, estava sempre próximo de Garrincha. “Foi um prazer estar tão perto do Mané, na despedida dele. Junto com Pelé, nem mais nem menos, Garrincha foi o grande astro de todos os tempos do futebol.” Quase 25 anos depois, Carlos Alberto lembra de uma outra conversa, ainda no vestiário. “Nossa preocupação era dar todas as bolas pra ele. Assim o Mané poderia brindar o público com suas jogadas”, se recorda o ex-jogador ao Arquiba Botafogo.
Assim que saiu de campo, Mané Garrincha começou a volta olímpica. Atrás do gol à esquerda das cabines de rádio, jogou a camisa suada, número sete às costas, para os geraldinos. João Saldanha, um gaúcho quase sempre contido, comentava o jogo para a TV Globo. “É um espetáculo bonito e a simplicidade do Mané jogando a camisa, jogando a chuteira. E agora parece que tá se ajeitando pra tirar as meias e também jogá-las pra torcida da geral, a torcida que mais o viu de perto, que mais o incentivou”, registrou o João Saldanha, para depois completar. “É meio difícil de dar entrevista e ele não deve estar com muito desembaraço”.
Sem chuteiras, sem meias, sem camisa, Mané Garrincha, cercado de repórteres e fotógrafos, desceu as escadas que levam aos vestiários.
Fonte: Blog Arquiba Botafogo
Esse cara foi o melhor jogador de todos os tempos, parabéns mané
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